A reconciliação da sociedade combate a violência.

Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Coordenador Rio da Associação Juízes para a democracia.

 

Toda crise social advém da violência que acomete a humanidade em todos os segmentos sociais. Na família, os cônjuges andam lado a lado como dois bêbados que não se encontram á procura de uma luz em meio à escuridão da vida em comum. As maiores vítimas são os filhos abandonados, independente da classe social. É por essa razão que cresce a cada dia a violência doméstica contra a mulher e contra a criança.

O pretexto de educar tem sido o responsável por 70% dos casos de violência praticado contra crianças e jovens pelos pais. A violência estrutural e sistêmica advém do quadro de miséria, má distribuição de renda, exploração do trabalhador, crianças abandonadas, falta de condições mínimas de dignidade de grande parte da população. Para Mahatma Gandhi a pobreza é a pior forma de violência.

A violência simbólica que permite que uns submetam outros a tratamentos humilhantes ou degradantes está presente em grande parte nas instituições como as escolas, os presídios e nas forças de repressão. A própria convivência nas grandes urbes promove diversas modalidades de violências como as violações da lei penal influenciando e causando sofrimento nas pessoas e prejudicando um relacionamento civilizado e respeitoso.

É preciso resgatar o direito à convivência familiar e comunitária em termos respeitosos e civilizatórios. Negar o perdão é praticar a injustiça. Devemos exercitar uma reflexão que nos leve ao perdão coletivo e não ao ódio que tem nos levado a loucuras agressivas e ao aumento da violência. Está muito distante historicamente a doutrina do Talião, mas como a história se repete essa é a nossa realidade. Não temos sido capazes de perdoar. Queremos sempre uma retribuição igualmente violenta, quando existem modalidades reparadoras muito mais eficazes que desprezamos.

A sociedade precisa de uma anistia ampla geral e irrestrita. Onde possa receber de volta os agressores que se arrependem e que desejam reparar os danos causados por meios mais eficazes que a simples privação da liberdade. A exclusão pura e simples como a que fizemos no passado com os portadores de enfermidades diversas mostra-se ineficaz e custosa.

Afinal, aquele que não tiver pecado atire a primeira pedra.