O morro não tem vez.
Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Membro da Associação Juízes para a democracia.

A invasão da Europa pelos refugiados de países que sofreram invasões comandadas pelos EUA e seus aliados europeus bem que podia servir de exemplo para o Governo do Rio de Janeiro que insiste em declarar guerra aos pobres, sob pretexto de combater as drogas. Não é por falta de aviso do Chefe das invasões armadas e violentas às comunidades do Rio de Janeiro, o secretário Beltrame bem que tem alertado que a “policia não pode ser a única representante do Estado a subir o morro”. As UPPs estavam apenas abrindo uma porta para que os outros serviços do Estado, como habitação, saúde, saneamento, etc., “De conversa fiada todo mundo está cheio”.
O que se vê agora na Europa é uma reação tardia à violência sofrida secularmente pelos que se julgam os donos do mundo, que derrubaram os governos constituídos do Iraque, Síria e Líbia produzindo guerras que atendiam aos seus interesses econômicos com falsas justificativas. Tal como se faz em nossa política de segurança pública onde as garantias constitucionais são rasgadas e barracos são invadidos a botinadas, presos são transferidos para outras unidades da federação, familiares são criminalizados, a liberdade de expressão é cerceada e aprisionados os contra essa violência institucionalizada sob o nome cunhado pelo Governador de “guerra pelas drogas”. Tudo sacralizado pelo judiciário que se diz agente de segurança pública quando era pra ser garantidor dos direitos fundamentais, das leis e da Constituição.
Se agora a Europa está sendo invadida por suas vítimas que chegam às suas fronteiras, desembarcam vivos ou mortos, em suas praias, invadem seus trens, escalam suas montanhas, enfrentando a violência de uma polícia que tenta, sem sucesso, fechar as fronteiras com jatos de água, cassetetes e gás lacrimogênio. Dia virá, e esse dia já foi cantado por Tom Jobim: “O morro não tem vez/E o que ele fez já foi demais/Mas olhem bem vocês/Quando derem vez ao morro/Toda a cidade vai cantar.”.
Esperemos que essa profecia, cantada em versos, não seja sangrenta, mas reconhecida a tempo de integrar em um só povo toda gente brasileira, sem as fronteiras do gênero, da cor, das classes sociais ou partidárias. Que venha o samba como hino dessa brava gente unida pelos laços da igualdade social.