Oi, Patrícia,

Foram tantas as homenagens, em lugares tão diferentes, que não sei se deu para você acompanhar todas.
Deixa eu te contar, então, como foi lá em Jacarepaguá.
No meio daquele corre-corre de trabalho que você bem conhece, não deu para discutir os preparativos com o pessoal, não.
Eu sei que você teria preferido de outra forma: com muitos encontros preparatórios, e calorosos debates.
Chego até a imaginar qual seria a pauta:
1. Onde realizar o ato;
2. Quem convidar;
3. No mesmo horário da homenagem do Tribunal?
4. Com discurso, ou sem;
5. Com música? Em caso positivo, quais.
Se você pudesse estar presente nestas reuniões de preparação, certamente defenderia com veemência teus pontos de vista, mas acabaria, sem saber, deles nos convencendo com a doçura do teu sorriso.
Apesar do improviso, acabou saindo um evento singelo, comovente, e acima de tudo, sincero.
Fizemos na porta do Fórum, logo depois do hall de entrada.
Colocamos uma faixa com a seguinte frase: Patrícia Acioli, teu exemplo nos inspira a sempre lutar. Direta e objetiva, como você.
O fundo era branco, e as letras azuis. Para o rapaz que encomendou, disse que azul era a cor da magistratura. Menti, Patrícia! Pensei mesmo foi na cor dos teus olhos.
Eu sei que era um ato político, que precisávamos demonstrar o repúdio social a uma barbaridade…
Só que não consigo abstrair a lado pessoal desta tragédia. Para mim, o pior de tudo foi termos perdido você.
Respeitamos um minuto de silêncio às 17h. Avoado que sou, esqueci de levar o relógio. Fui salvo pelo promotor que se ofereceu para cronometrar, e me fez um sinal quando o tempo acabou. Vou brincar com ele, dizendo que até nessas horas o MP quer ser o fiscal da lei.
Puxei uma salva de palmas, e o Horácio, um oficial de justiça que é músico ( acho que a ordem está trocada  ) cantou em tua homenagem.
Pedi para ele cantar Imagine, por conta do “ you may say I´m a dreamer, but I´m not the only one”.
A Canção da América foi iniciativa dele, mas encaixou tão bem: “ quem cantava chorou, ao ver seu amigo partir”.
Agora, deixa eu te falar das coincidências.
Lembra do Tórtima? Aquele que era o chefe da Instituição em nossos bons tempos de Defensoria. Não é que ele estava deixando o Fórum bem na hora marcada para o evento. Tinha ido a Jacarepaguá participar de uma audiência como advogado. Acabou ficando lá com a gente. Muita coincidência, né?
Mas a melhor não foi essa. De repente, como que vindo do nada, me aparece um sujeito de bermuda, com pinta de “doidinho”, vestindo a camisa do Flamengo.
No minuto de silêncio, voltou as mãos para o alto, movendo os lábios como se estivesse a orar. Desapareceu sem ninguém perceber.
Ô Patrícia! Todo mundo sabe que você era rubro-negra de arquibancada.
Tem teu dedo na aparição do flamenguista, não tem não?
Saudade,
Arthur