CANTO DOS TRINTA DIAS – PARA PATRÍCIA ACIOLI, A JUÍZA ESQUECIDA PELOS JUÍZES
CANTO DOS TRINTA DIAS – PARA PATRÍCIA ACIOLI, A JUÍZA ESQUECIDA PELOS JUÍZES
por Arlindo Daibert

Trinta dias se passaram,
De quando trinta tiros dispararam
Trinta vezes atingindo uma Justiça
De que trinta séculos ora nos separam.

Trinta milhões multiplicados por sete gritaram
O que trinta vozes solitárias em desespero clamavam.
Trinta geraçōes sentirão
A dor que trinta omissōes gestaram.

Trinta versões fabricaram
Para por trinta noites contrariar o fato
De que trinta pedidos de socorro houve
E trinta foram os negados.
Assim, trinta vezes viraram
As costas que trinta vezes se mancharam,
Com o sangue do corpo a que trinta tombos levaram
Trinta silêncios que intencionalmente nada escutaram.

Trinta voltas deu a Terra,
Trinta temores provocando,
Trinta manipulações se engendraram
Que em trinta escândalos foram se metamorfoseando.
Foi quando trinta cabeças sem cérebro
Trinta situações implausíveis conceberam,
Enquanto trinta bandidos riam
Trinta risos que só olhos de ver perceberam.

Com trinta mentiras vis tentaram
Dar mais trinta mortes à vítima.
Esbarraram trinta vezez em Patrícia,
A juíza que com nome e em nome de trinta pátrias
Fez conceito com trinta blindagens a prova de malícia.
Trinta dinheiros compraram
Trinta judas no armazém da hipocrisia,
Artigo que nem trinta dúzias dentre aqueles os mais caros
Se comparam a quanto aquela jóia valia.

Trinta calúnias saíram
De trinta bocas covardes.
De trinta ouvidos nenhum quis
Saber das trinta verdades.
Trinta martírios assim produziu
A chama de trinta maldades.

Hoje, a cada trinta passagens
Do ponteiro que de trinta em trinta
Leva ao badalo de trinta sinos, bem tarde,
Trinta voltas dá a sombra do barqueiro
A cobrir com trinta remadas
O entorno das trinta muralhas,
Que com suas trinta camadas de medo
Esconde trinta dezenas de almas trêmulas
Trinta vezes assombradas
Pelo vulto da única passageira,
Que trinta lágrimas derrama
Nas trinta ocasiões em que lhes sussura
Palavras trinta quilos pesadas
E que trinta profundos sulcos fazem
Em sua visão trinta graus turvada:

“Trinta oportunidades pedi.
Trinta decisōes mas negaram.
Trinta ocasiões insisti
No que nem trinta fachos de luz lhes mostraram.
Trinta indiferenças sofri
Todas trinta me condenaram.

Trinta luas já se foram enquanto dentre vós
Trinta me abandonaram
Trinta se intimidaram
Trinta nada falaram
Trinta gargalharam
Trinta me ignoraram
Trinta coisa alguma tentaram
Trinta tiveram pânico
Trinta se agacharam
Trinta sei eu seus segredos
Trinta se bestializaram”

Trinta círculos fizeram
Trinta grupos de investigação sem faro.
Trinta vezes contornaram
Os trinta tentáculos podres,
Que pendem de seus trinta rabos,
Sem ver – ou a ver – que trinta vezes pisaram,
A trinta passos de onde estavam,
Em mais de trinta centenas de culpados.
Trinta cabeças bateram
Enquanto trinta assassinos escapavam.

Agora, há um par de trinta mundos que se chocam
Trinta a pedir ética
E trinta a fingir que se importam.
Há também trinta filhos que choram
E trinta que ainda irão chorar,
Pelas trinta chagas da culpa
Que por trinta milênios deverão carregar.

Trinta fraquezas selaram
Trinta destinos possíveis
E trinta sonhos tangíveis.
Trinta sonetos não cantam
A voz que trinta vezes calaram
Trinta portas sem tranca,
Que trinta fracos sopros derrubaram.
Trinta é o número da vergonha
A que trinta correntes de absurdo nos amarram.

Trinta foram os anos
Que trinta naus a vi navegar
Por seus trinta íntimos oceanos,
Enfrentando trinta tempestades
E mais trinta desenganos,
Trinta desilusōes
E trinta esquadras de mundanos,
Em trinta guerras invencíveis
Que a varreram do mar.
Arlindo Daibert