O GAROTO DA BICICLETA.
Siro Darlan, Desembargador do Tribunal de Justiça e Membro da Associação Juízes para a democracia.

O abandono de crianças não é uma prática infeliz que ocorre apenas em países pouco desenvolvidos e muito menos apenas de pessoas com baixa renda. O filme belga mostra que o descaso com as crianças depende de uma cultura de respeito ao ser humano e responsabilidade dos pais pelas criaturas que geram.
Gerar uma criança não está umbilicalmente entrelaçado com a responsabilidade do amor, apesar da frase do Pequeno Príncipe que disse que nos tornamos responsáveis por aquilo que cativamos. Contudo o que se deve ressaltar no filme é que para cada pai irresponsável existem milhares de criaturas solidárias e dispostas a assumirem a tarefa de do cuidado.
A prova está no número crescente de adoções e a desproporção existente entre aqueles que desejam adotar e as crianças que têm a sorte de uma segunda chance familiar. Os entraves burocráticos de uma adoção ainda impedem que essa esquina do destino patrocine o encontro amoroso entre adotantes e adotados. Esse entrave não está na lei, mas na cabeça dos agentes que a interpretam.
A participação da “mãe” no filme é cativante e mostra como deve ser esse encontro amoroso. Um amor incondicional que não passa por cor da pele, passado da criança, seu comportamento, sua saúde, ou qualquer outro detalhe preconceituoso. O amor do adotante há de ser incondicional, de aceitação daquela criatura abandonada que só deseja encontrar um porto seguro e um colo carinhoso que a aceite como ela é.