O desembargador Siro Darlan é um magistrado com rara visão social. Uma visão que poucos a têm. De seu punho e de seu talento jamais li ou tive notícia de uma decisão que não fosse amparada na lei e, fundamentalmente, no âmbito penal, na possibilidade da ressocialização da pessoa que contribuiu para o desequilíbrio social. Ele conhece como ninguém a realidade social brasileira. E a suja política dos que conduzem nosso país.  Ele está sempre do lado dos sem voz, sem vez e sem tudo. Não poupou esforço para defender uma população de desabrigados que, cinco ou seis anos atrás, estava à frente do prédio da Prefeitura do Rio e depois todos foram retirados  de lá à força e rumaram para a porta da Catedral da Avenida Chile. Eles eram ordeiros. Mas isso incomodou a Igreja, logo na semana santa. E o desembargador Darlan não ficou em casa. Foi ficar perto dos desabrigados para protegê-los. Eles eram inofensíveis. A ofensa— santa ofensa— era ficar na porta do Templo, do qual não eram vendilhões, mas filhos de Deus a buscar amparo e ouvir a voz do Pastor e deste esperar por sua mão estendida. Não me lembro se ouvirram, ou se tiveram a mão estendida do Pastor. Do Desembargador tiveram. E como tiveram! Décadas atrás, quando o dr. Darlan era Juiz da Infância e da Juventude, dois delegados da polícia federal que atuam na alfândega do Aeroporto Tom Jobim bateram lá no meu escritório. Não os conhecia. Foram pedir ajuda. Eles trouxeram fotos e documentos que me entregaram. Diziam respeito a uma encomenda vinda do exterior com cerca de 2000 armas (fuzis e revólveres) de brinquedo, mas réplicas exatas das armas verdadeiras. Eles diziam que desejavam, mas não poderiam impedir a entrega, a liberação da perigosa mercadoria. E me consultaram. Disse aos delegados que deixassem o material(fotos e documentos) comigo. E eles deixaram. Eles se foram e comecei a agir sozinho. Fiz uma petição,  anexei os documentos e as fotos e às 4 da tarde de uma sexta-feira fui até à sede do Juízado. Entrei no gabinete do então juiz Siro Darlan, que leu a petição, examinou os documentos e imediatamente expediu mandado de busca e apreensão de toda aquela mercadoria. E por volta das 18 horas daquele mesmo dia os oficiais de justiça já tinham cumprido o mandado e todas as réplicas do armamento já estavam na sede do Juizado. E lá ficaram. Ninguém as reclamou. E foram destruídas por ordem do Juiz Siro Darlan. No passado remoto, mas nunca esquecido, tivemos o dr. Eliézer Rosa, titular da 8a. Vara Criminal, chamado de o “Bom Juiz”. Ele era bom por conhecia o Direito (foi um grande processualista) e conhecia a pessoa humana, por dentro e por fora. As condenações que assinava e que eram notícia de primeira página nos jornais, hoje são instituídas na lei, tais como, prestação de serviço à comunidade, cestas básicas. Tudo isso foi o dr. Eliézer Rosa que nos legou. No passado, não tão remoto assim, tivemos o Juiz Alyrio Cavalieri, que marcou seu nome na proteção, defesa e até punição dos menores infratores nesta cidade que outrora foi maravilhosa. Depois veio o juiz Siro Darlan, que graças a Deus se encontra em nós, distribuindo Justiça destemida e Justiça justa e com visão social. Jorge Béja Advogado no Rio de Janeiro (70 anos) Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros Especialista em Responsabilidade Civil ( UFRJ e Universidade de Paris, Sorbonne)