Programa Encontro com a Justiça

Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça e membro da Associação Juízes para a democracia.

Meditando sobre a festa de Corpus Christi, verifiquei como é complexa essa teologia da materialização de um Deus através da partilha do pão. Interessante que num mundo com tantas pessoas sofrendo, essa transfiguração acontece através do sofrimento do trigo que é triturado, amassado e unido para formar o pão. Da mesma forma a uva tem que ser pisada, esmagada para virar vinho. Essa imagem teológica é muito rica e nos conduz a compartilhar o pão e o vinho para nos fortalecer. Compartilhar em comunhão significa doar-se. E foi com essa concepção que quatro magistrados criaram o programa Encontro com a Justiça para compartilhar conhecimento com os ouvintes. Compartilhar noções de direito e justiça com aqueles que são leigos nesses assuntos.

Com essa proposta peregrinamos há quase quatro anos nas rádios Família, Manchete e Catedral. Durante a saudável convivência na Rádio Catedral pudemos levar a nossos ouvintes temas da maior relevância e convidados do mais alto nível como o Corregedor de Justiça Claudio Tavares que prestou contas da atuação da Justiça no Rio de Janeiro, o Defensor Público Geral André de Castro que prestou esclarecimento sobre a importância da Defensoria Pública para a sociedade; o advogado Sergio Calmon que esclareceu dúvidas sobre o direito de família; a advogada Marcia Dinis que abordou temas dos direitos humanos; o advogado Leonardo Antonelli que esclareceu dúvidas sobre o direito tributário; o Secretário de Meio Ambiente Rubens Teixeira que dissertou sobre o trabalho do município na defesa da natureza, tema de Encíclica Papal; o advogado James Walker que falou sobre a formação dos advogados; a professora Juliana Pereira que esclareceu dúvidas sobre o direito do consumidor; a advogado João Tancredo que ensinou como proceder em casos de reparação de danos por atos de violência; o professor e jurista José Carlos Buzzanelo que debateu sobre democracia e direitos humanos; o advogado Antonio Pellegrino que mostrou a importância do advogado numa sociedade injusta; o Padre Omar que nos brindou com seu conhecimentos sobre métodos de resolução de conflitos; o advogado Humberto Adami que discutiu sobre os direitos do povo negro; o deputado do PSDB Luis Paulo que informou sobre a crise social por que passa o estado e o Vereador e Professor Tarcísio Motta que abrilhantou o programa falando sobre o direito à educação e sua importância para o desenvolvimento das crianças e adolescentes.

Com essa programação combatemos o bom combate e nos colocamos sempre disponível para o diálogo e para aproximar a Justiça do povo que tem fome e sede dela. Essa semana fomos dispensados da Rádio Catedral por haver convidado um parlamentar para debater sobre educação. Pasmem, já tivemos o maior de nossos educadores Paulo Freire preso e perseguido porque ousou levar a educação para as camadas mais populares. Mas não é hora de desanimar mas continuar com o coração inquieto, e inquieto permanecer até o descanso final. Sigamos nossa senda sem dar ouvido ao discurso do ódio e da intolerância religiosa, responsável por tantas guerras, julgamentos inquisitoriais e muitas fogueiras, e não apenas sete, mas setenta vezes sete “perdoemos aqueles que não sabem o que fazem”. Busquemos antes de tudo sermos misericordiosos e pacificadores, porque os que sofrem perseguição por causa da justiça, serão dignos do reino dos céus.

O Cristo é nossa meta e exemplo. Ele jamais desacolheu todos aqueles que quiseram com ele dialogar. O preconceito destinado a um dos nossos convidados é uma ação anticristã e não condiz com o sacerdócio do Amor incondicional de Deus pelos homens e mulheres quando mandou seu próprio Filho para unir na Cruz o céu e a terra e, como está insculpido no símbolo de nossa Cidade Maravilhosa acolher a todos e todas de braços abertos. Que Deus tenha misericórdia dos que perseguem aqueles que são diferentes e possuem ideias próprias e iluminem aqueles que nos injuriaram e perseguiram, mentindo e falando mal do próximo por inveja ou mesquinharia.