Meus ídolos.

Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça e membro da Associação Juízes para a democracia.

 

O grande poeta Cazuza cantava que seus heróis haviam morrido de overdose. Saudosista conversava com meu filho Guilherme no dia dos pais e do aniversário dele, que é um artista do cinema, sobre a atual pobreza cultural dos novos tempos. Dizia orgulhoso que minha geração foi das mais ricas em cultura e esportes. Enumerei de memória apenas os grandes ídolos, ainda vivos que iluminaram a minha geração, quase todos com mais de setenta anos: Chico Buarque, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Gilberto Gil, Baby do Brasil, Elza Soares, Gal Costa, Angela Maria, Elba Ramalho, Ney Matogrosso, Milton Nascimento, dentre outras feras da MPB.

Nas artes cênicas temos gente como a “imortal” Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro, Tarcísio Meira, Gloria Menezes, Marcos Nanini, Tony Ramos, Lima Duarte, Antonio Fagundes, Tônia Carrero, isso para falar apenas dos vivos, já que entre os mortos há nomes ainda maiores nesse século culturalmente tão rico. Nos esportes, além dos grandes títulos mundiais conquistados coletivamente no futebol, no vôlei, na natação e no atletismo, tivemos Pelé, Garrincha, Zico, Marta, Rivelino, Paulo Cesar Caju, Gerson, Robson Caetano, Maria Lenk, Aurélio Miguel, Lars e Torben Grael, Ayrton Senna, Joaquim Cruz, Ademar Ferreira da Silva, Maria Ester Bueno, Oscar Schmidt, Gustavo Kuerten e Cesar Cielo. Hortência, Gustavo Borges. Que orgulho dessa geração!

Hoje vivemos uma pobreza política, social, cultural e ética que dá pena. Embora ainda tenhamos bons valores nos esportes e na cultura, não há comparação entre esses profissionais. O saudosismo é próprio dos que ficam velhos, mas é inegável que o século que passou nos trouxe muitas alegrias. Até mesmo na seara política, ainda que tenhamos testemunhado duas ditaduras, a de Vargas e a militar e empresarial, os políticos eram muito mais bem preparados, cultos e respeitados em sua diversidade e fidelidade partidária. Hoje os interesses particulares e corporativistas se sobrepões aos interesses coletivos da Nação e do povo sofrido.

Ulisses, Brizola, João Goulart, Magalhães Pinto, Paulo Freire, Darci Ribeiro, Luis Carlos Prestes, Juscelino não caberiam nesse Congresso pobre e que nos enche de vergonha. O único caminho capaz de restaurar esses valores é a valorização real da educação para motivar o nascimento de lideranças que coloquem o Brasil nos trilhos de uma grande Nação que investe no seu povo respeitando os direitos fundamentais e sobretudo promovendo uma melhor distribuição de rendas e acesso aos bens e serviços.