O morro não tem vez.

Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a democracia.

 

O aniversário de morte de Getúlio Vargas me fez meditar sobre o atual estado de perdas de direitos que estamos enfrentando na sociedade brasileira. Na magistratura se fala que somos a bola da vez porque estamos na berlinda do ódio dos políticos que se acham vítimas das ações do Ministério Público e do Judiciário. No operariado a tristeza de ver todos os direitos sociais conquistados sendo tungados pela ação legislativa que procura servir os interesses do capital. Se nós magistrados cochilamos quando do primeiro assalto aos direitos constitucionais e aplaudimos a derrubada de uma presidente honesta, devíamos saber que após um golpe permitido pelo judiciário conivente haveria mais o que perder.

No Rio de Janeiro, enquanto o judiciário continua deixando de ver e coibir os abusos policiais, o exército brasileiro, sagrada instituição com finalidades de proteção ao estado de direito e aos interesses da Pátria, é transformado em polícia para caçar os direitos dos habitantes das comunidades pobres e da periferia, sob o falso pretexto de caçar bandidos. Faz um papelão maculando suas tradições, pois além de deixar vazar suas operações são pífios os resultados da ação de polícia. Mas, não nos esqueçamos, todo esse abuso foi autorizado, ao arrepio da Constituição por uma juíza. O povo pensa que tudo que um juiz autoriza é legal e isso é um engano.

Mas quando derem voz ao morro, e parece que o povo das favelas já estão se organizando através da Frente Popular das Favelas – CUFA, toda cidade vai literalmente sambar. As ideias de respeito as diferenças étnicas, sociais, de gênero e de democracia crescem e espalham-se e empolgam as massas na luta pela reconquista da liberdade. A consciência do papel grandioso e importante das organizações do operariado, unirá novamente a população e ninguém poderá deter o retorno à legalidade, sem a crueldade e o cinismo das instituições que a tudo assistem passivamente como se não fizessem parte dessa mesma sociedade e como se não fossem também vítimas dessa ação escravocrata do povo trabalhador.

A resistência organizada e pacifica faz-se necessária para que através de um diálogo permanente e amplo possamos reverter essa política de poucos a dominar a maioria silenciosa, sacrificando milhões de homens e mulheres que não têm acesso ao processo educacional, a uma saúde que garanta o acesso de todos à propriedade como bem comum. Democratizar o processo de plantação e consumo com o direito às terras democraticamente distribuídas, sem que haja latifúndios improdutivos, nem a destruição da natureza pela cobiça dos monetaristas e materialistas. Esse é o ritmo que todo povo tem o direito de sambar: a igualdade dos direitos e acesso aos bens garantido a todos os brasileiros.