O ódio é um bumerangue.

Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça e membro da Associação Juízes para a Democracia.

 

O uso de uma concessão pública para fins particulares é tão criminoso como o uso do dinheiro público para corrupção. A independência funcional, prevista na Constituição,  garante a um juiz decidir de forma livre e fundamentada. Como o direito não é uma ciência exata, pode haver divergências nas interpretações e nas decisões. Por isso o legislador foi sábio e previu as instâncias recursais e a fiscalização do Ministério Público, órgão imprescindível para uma república democrática porque acompanha todos os procedimentos judiciais e recorre quando deles discordar.

Passados cinco anos de haver relatado uma decisão judicial unanime de soltura de uma acusado que já estava preso há dois anos, sem uma decisão judicial, fui indevidamente julgado por um Tribunal Midiático despreparado que desconhece as regras do devido processo legal e se arvora em Juiz dos juízes. Esse procedimento costumeiro desrespeita os valores éticos e sociais da pessoa e da família, uma vez que induz os telespectadores e leitores a erros, além da utilização da noticia como mercadoria com fins de causar danos à imagem dos juízes e dos tribunais a que pertencem. Essa manipulação é altamente perniciosa a uma sociedade democrática e induz a opinião pública, impedindo a livre manifestação do pensamento aos destinatários da notícia.

A manipulação odiosa da notícia serve apenas para exacerbar o ódio na sociedade, justo num momento que que o Rio, ao promover um dos maiores eventos musicais do planeta, mostra sua capacidade de superação produzindo mais uma vez o Rock in Rio, levando ao povo sofrido a música, a poesia e o entretenimento. Maculando a imagem da Cidade Maravilhosa, como é de seu costume, as notícias enfatizam nossas mazelas ao invés de aproveitar para mostrar para o mundo que “mesmo com toda a fama…com toda a lama” o povo fluminense é capaz de superar todo esse furacão de más notícias e, “apesar de você”, (que apoiou a ditadura) “amanhã há de ser outro dia”.

Conta a fábula que um abutre buscava por más noticias para se alimentar e servir à causa de seus senhores. Destilava ódio contra aqueles que não exalavam o mesmo odor de seu bando. Esse ódio atingiu seus rins e ele ficou tão debilitado que suas asas ficaram fracas e sua companheira fugiu com seus bens pessoais deixando-o sozinho  triste. O ódio, que sempre volta para o agente, é o pior que pode acontecer em qualquer profissão já que o compromisso de todos é com o bem comum e a promoção de um mundo de paz e solidariedade. Cristo nos clama a perdoar aqueles que erram contra nós não apenas “sete vezes, mas até setenta vezes sete.” Vamos tentar, mas nossa humanidade nos impõe limites.