Oh mundo tão desigual.
Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Membro da Associação Juízes para a Democracia.
Participei da inauguração do novo anexo do Tribunal de Justiça com muita tristeza e decepção. De um lado esse carnaval. Um luxo que repugna qualquer pessoa diante dos contrastes em que vivemos como membros de um judiciário que está nas vitrines, levando pedradas de todos os lados. Um judiciário que ainda é incapaz de gerar um boletim de produção de seus juízes que reflita a realidade do volume de trabalho de cada magistrado, sacrificado no seu dia a dia.
Enquanto nos deliciamos com a obra de um “visionário” e da DELTA, os advogados e as partes reclamam aflitas da morosidade dos procedimentos. No Juizado de Bangu, onde já estive e fotografei a juíza despacha numa “caixa de sapatos”, onde se as testemunhas entrarem os advogados tem que ceder suas cadeiras, não se fornecem cópias das atas aos advogados por economia, os banheiros são precários e há todo tipo de carências para se prestar minimamente um serviço de qualidade. Há processos que leva até um ano para ir à conclusão dos juízes. Em Nova Iguaçu, o povo aguarda o atendimento ao relento, na chuva.
Aí está mais uma obra pública muito mais luxuosa e imponente do que qualquer obra das corporações privadas. Mais um Palácio fora de época, já que não somos uma monarquia e a época dos palácios já está longe e fora de moda. Do alto desse novo palácio sequer há janelas para se olhar para fora e vir o que se passa lá embaixo.
Há os que se alegram com isso, são pessoas insensíveis e incapazes de se exasperar com tamanhos contrastes que nos deixam envergonhados. Tá na hora de ouvir o Gil cantando “Oh! Mundo tão desigual. Tudo é tão desigual. De um lado esse carnaval. De outro a fome total”.
Prezado Dr. Siro,
na data de ontem estive no Plnatão Judiciário. Estava um verdadeiro caos. Protocolizei meu agravo de instrumento às 14:09 e fui intimado da decisão do Des. de plantão apenas às 21:45. Este é o nosso Tribunal.
att
Luiz
ps: Se me permite, visto por fora, o prédio novo tem forma de vaso sanitário, periga ficar conhecido como “privadão”
Fiquei impactada com o seu desabafo diante do que viu e vê constantemente nos tribunais de justiça. Um homem tão conhecido e reconhecido pela mídia também tem seus momentos de conflitos e queixas. Fico imaginando, um desembargador ilustre que apresenta uma situação como essa de abandono, porque como pode uma juiza trabalhar com tantos processos num lugar que não tem as mínimas condições para realizar seu trabalho com eficiência? Se os juízes e desembargadores tem seus problemas, imagina nós, pequenos cidadãos de uma realidade atroz. O senhor julga processos e eu os confidencio em meu site, como apenas um desabafo, fiz procurando fazer catarse, porque só assim me esvazio de minha dor diante da morosidade da justiça, a qual o senhor está no topo. Valorizo o trabalho que os magistrados apresentam. Acredito que merecem um espaço dígno na elaboração e execução de suas tarefas, mas espero que a justiça seja mais rápida e possibilite aos cidadãos resultados mais eficientes e rápidos. Que o poder público também seja penalizado quando lhe couber e que cumpra também o que for determinado pelos meritíssimos juízes em tempo hábil, sem lhe dar resistência.