A sabedoria.

Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Membro da Associação Juízes para a democracia.

 

Há aqueles que pensam que já sabem tudo e param de ler, de estudar, de se aperfeiçoar. Já estão prontos. Mas há aqueles que querem aprender a cada dia, e reconhecem que quanto mais procuram pelo conhecimento, descobrem que nada sabem. No mundo contemporâneo onde a velocidade da informação e da tecnologia é praticamente inalcançável, a busca pelo saber deve ser uma regra de sobrevivência. É preciso que se diga que essa busca não se encontra apenas nas academias e nos livros, já que muitos detêm um vasto conhecimento proveniente de suas qualidades pessoais porque a sabedoria é antes de tudo pura, modesta, pacífica, conciliadora, quando moldada pela misericórdia, a partilha e de bons frutos.

O filósofo Nietzsche, em seu livro Gaia Ciência, já se perguntava: “o que entende mesmo o povo por ‘conhecimento’? o que quer ele, quando quer ‘conhecimento’? Não mais do que isso: algo estranho deve ser remetido a algo conhecido […] Não seria o instinto do medo que nos faz conhecer? E o júbilo dos que conhecem não seria precisamente o júbilo do sentimento de segurança reconquistado?” Nietzsche que dizia ser o conhecimento uma invenção, uma convenção dos humanos, o que diria hoje com relação ao privilégio de alguns em detrimento de outros humanos sobre o acesso diferenciado ao saber que os próprios humanos convencionaram para se excluir uns aos outros.

O saber muitas vezes se contrapõe aos princípios partilhados por quase todas as religiões, para ele também uma invenção, que deseja que haja igualdade de acesso a todos os direitos fundamentais, dentre eles a educação. Quando os livros sagrados ensinam que quem quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos, não está pregando que sejamos indolentes e não busquemos o nosso aperfeiçoamento, mas que tenhamos a humildade de compartilhar o conhecimento que adquirimos com todos, desde ao mais sábios aos menos aquinhoados.

A busca do conhecimento, conforme ensina Joseph Campbell, é equiparado à descoberta do pai desconhecido, o simbolismo básico permanece como sendo a procura da auto revelação. A busca da própria identidade nos impulsiona à procura de nossa origem desde dos tempos mais remotos, quando essa procura nos traz revelações importantes que mudaram a história da humanidade proporcionando progressos em todos os campos do conhecimento.

Muitas revelações ainda estão por vir porque o conhecimento tornou-se parte da própria vida, trata-se de um poder impulsionado pela curiosidade que está em contínuo crescimento, mas que nunca se esgotará. Os antigos erros fundamentais que ao longo dessa caminhada cometemos, muitas vezes nos parecerão ridículos, mas nada teria acontecido de novo se não tivéssemos continuado nessa caminhada. A cada erro, a cada caminhada incorporada, nos indagamos, o que virá depois. Até que ponto continuaremos incorporando novas e surpreendentes novas verdades?