Agostinho, santo sábio e acolhedor.
Siro Darlan – desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a Democracia.
No final dos anos 50, estudei no Colégio padre Antonio Vieira, que era conhecido pelos alunos como o colégio do SAM – Serviço de Assistência ao Menor onde se “entra burro e sai caveira”. Fui interno juntamente com meu irmão mais novo por motivos financeiros de minha família. Mas ao passar as férias e fim de ano em casa, e frequentando a Igreja Santa Mônica para ajudar a missa em latim, encontrei o acolhimento dos padres agostinianos recoletos, cujo Pároco Frei Valeriano Fernandes, atendendo a uma indicação do meu querido e saudoso Frei Aurélio Azcona, ofereceu-me uma bolsa de estudos no conceituado Colégio Santo Agostinho.
Foi um presente de vida para mim, que pude conhecer o paraíso da religiosidade e a oportunidade de um estudo de qualidade que jamais poderia frequentar sem a generosidade dos freis agostinianos. O diretor, Frei Valentin Rejon, foi muito receptivo á solicitação de seus irmãos e me acolheu no Colégio.
Nessa época estava em cartaz um filme espanhol com Pablito Calvo, uma criança que fora acolhido ainda bebê num convento e criado por doze frades chamado Marcelino, pão e vinho. Eu era o próprio, com a vantagem que não eram apenas doze frades, mas o dobro. Entre frades da Igreja e do Colégio, apenas os que ainda me lembro estavam Frei Gregório e seus inseparáveis cães, Frei Izidro, meu querido professor de português, Frei Eulógio, Frei Baudélio, Frei Fermin, que depois foi meu patrão quando fui inspetor , Frei João Manuel, Frei Francisco, Frei Miguel, Frei José Eustáquio, Frei José Antonio, Frei Heliodoro, Frei Benjamim, Frei Antonio Ibañes, Frei Vicente, Frei Manuel Suarez, fundador do Magno do qual fui o primeiro adepto, juntamente com Jorge, Luiz Barge, Isac e Maria Helena, Frei Geraldo, Frei José Belmonte, Frei Antonio Garciandia, meu professor de música e eterno confessor, Frei José Gonçalves, Frei Bernardino Valpuesta, um craque no futebol.
Desculpe se esqueci de alguns, mas esses foram os pais que a vida me deu já que muito pouco conheci o meu pai biológico. Cada um desses frades tinha sempre um conselho, um exemplo, uma palavra de correção e carinho que jamais esqueci nem esquecerei. E foi embalado por esse exemplo e carinho familiar que me senti chamado para o sacerdócio e apoiado por Frei Valeriano que providenciou dois padrinhos na paróquia, Dona Ligia Valverde e DR. Orlando Carneiro, me deram todo o enxoval para partir para o Seminário São José, em Ribeirão Preto, São Paulo.
No Seminário cursei meu ensino fundamental, então chamado de ginasial, e ganhei toda a base para o exercício da cidadania, com aulas brilhantes dos melhores e mais dedicados professores e conselheiros. Ao final do 4º ano ginasial, meu Professor Orientador Frei José Alexandre comunicou-me que eu não apresentava os requisitos vocacionais e meu desligamento do Seminário. Minha vocação era para outra área profissional e acho que estava de acordo com meu orientador.
Voltei para casa e fui recebido no Colégio santo Agostinho com o mesmo carinho de quem volta para casa, agora contratado como inspetor. Foi uma bela experiência profissional onde pude conciliar o trabalho com os estudos universitários, e com a base educacional e sólida religiosidade, formei-me advogado e posteriormente através de concurso público entrei na magistratura.
Tudo isso estou contando para testemunhar o carinho e a gratidão que tenho para com os Padres Agostinianos que me acolhendo e adotando como filho me proporcionou toda essa caminhada vitoriosa. Desse modo, tenho fortes motivos para chamar o mais santo e mais sábio doutor da Igreja de meu Pai Santo Agostinho.