História para alimentar a infância.

Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Membro da Associação Juízes para a Democracia.

 

Ao som do samba da Mangueira que deu um grito de alerta sobre o que é real e o que desejam que acreditemos, acabo de ler um artigo da Dra. Ana Cristina Pinho, diretora geral do INCA, alertando para os riscos da modernidade que tem levado a humanidade a morrer pela boca. Assim como a “História pra ninar gente grande” nos alerta para a história que o interesse dos “vencedores” nos empurrou goela a dentro, a Doutora Ana Cristina nos alerta contra a epidemia de doenças que a indústria alimentícia e farmacêutica tem patrocinado com fins exclusivamente lucrativos.

Esse enredo começa criminosamente nos bancos escolares, quando enquanto os mestres ensinam as crianças a ter cuidado com a alimentação que deve ser saudável, rica em legumes, frutas e hortaliças, evitando-se carnes vermelhas, álcool e alimentos processados e gordurosos, no recreio a própria Escola oferece opções contraditórias sob os auspícios do interesse econômico que contrata cantinas onde o que se vende são fast-foods, refrigerantes, doces, e alimentos supersaturados com base em glicose e outros venenos que viciam e excitam as crianças e adolescentes.

 

Essa técnica de sedução invade os meios de comunicação que comprados por um marqueting milionário induzem as pessoas em processo de desenvolvimento a um consumismo viciado e vicioso, não apenas no campo alimentar, mas nos brinquedos mais extravagantes e excludentes tanto do ponto de vista da sociabilidade quanto do distanciamento nos valores entre o ter e o ser.

As famílias que muitas vezes tem abdicado de promover as mais simples decisões em favor de terceiros: a educação, cobram exclusivamente das escolas; os cuidados afetivos deixam por conta de cuidadoras e acompanhantes; até a escolha dos colégios onde os filhos devem estudar, recorrem a decisões judiciais.

As babás eletrônicas têm assumido papel dos pais e os celulares saquearam a atenção dominando o cenário dos cuidados e educação familiares. Novos mitos e super-heróis foram criados substituindo os sonhos e as fadas que habitavam a imaginação das crianças. As histórias modernas criadas para manipular a infância foram escritas pelos detentores do prestígio econômico, político, militar e educacional, onde o que conta não é criar filhos e cidadãos saudáveis, mas consumidores compulsivos, que logo se tornarão pessoas doentes para consumir os medicamentos que fazem rodar a economia e incapacitar com doenças como a obesidade, o câncer, a diabete, a hipertensão e a demência, completando o paraíso dos vendedores de venenos e da morte.