Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a democracia.

 

Era sábado de sol no Rio de Janeiro e em mais um evento da Universidade Livre do Leme mais de 150 pessoas debatiam sobre a filosofia de Maimônides (1138 – 1204), um médico judeu espanhol que escreveu o Guia dos Perplexos foi dissecado pelo Professor Edgar Leite. Encontro muito inspirador e reflexivo.

Porém ao terminar esse proveitoso encontro filosófico tomei o Caminho da Perplexidade, e saindo do Leme, Copacabana, Ipanema e Leblon, onde brilha 24 horas o prazer das drogas vendidas livremente nas praias e logradouros públicos, passei pela Avenida Brasil, onde grassam os guetos das vítimas das drogas e da miséria.

Maimônides teria nesse caminho vários motivos de perplexidades. Como pode numa mesma cidade, tão privilegiada, tão linda e tão amada conviver tantos odiosos contrates da vida humana? Diria, como disse, que “Um homem nunca deveria parar de aprender, nem no seu último dia”.

Segui pela Avenida Brasil de tantos contrastes até chegar a Vila Vintém, Estádio de Moça Bonita. E lá, mais perplexidade. Num estádio modesto estavam mais de vinte mil pessoas assistindo ao final da Taça das Favelas. Diriam os mais preconceituosos, lugar perigoso e sujeito a conflitos. Jovens favelados disputaram duas finais, a feminina, vencida briosamente pelo time das meninas do Curral das Éguas. Que jogo lindo, quanta fineza das jogadoras adversárias dentro do campo a amigas em suas comunidades.

Seguiu-se a final dos jovens das comunidades de Patativa de Campo Grande contra os atletas de Gogo da Ema de Belford Roxo. Um jogo disputado que terminou empatado em 2 a 2, e levado à acirrada disputa de pênaltis, acabou dando a Taça para os meninos de Belford Roxo.

Que evento espetacular, exemplo de ação pacificadora possível e realizada pela CUFA do Celso Ataíde e sua briosa equipe. Celso Ataíde, o nosso Nelson Mandela, há mais de 30 anos planta sementes de paz nas comunidades e comprova como são dignos e respeito os moradores das favelas de todo o Brasil, onde faltam apenas políticas públicas construtivas e inclusivas.

O mesmo evento foi reproduzido com imenso sucesso em São Paulo e esse é o grande caminho a ser semeado na busca da paz social. Cabe agora aos governantes imitar esse exemplo e ao invés de entrar nas comunidades com camburão de policiais invadir as comunidades com políticas públicas sociais e equipamentos de esportes, educação, cultura e saúde.

Assim esse caminho terminou com a entrada dos carros do Corpo de Bombeiros levando os campeões e as campeãs festivamente para suas comunidades onde foram recebidos com festas e comemorações, tudo na mais perfeita ordem e paz.