Depoimentos: Uyara; Thiago Fragoso; André Marques

O Livro de Áurea Charpinel intitulado “Os sinos da Candelária” trazem consigo histórias marcadas pela crueldade que é viver nas ruas. Antes mesmo do triste episódio intitulado “Chacina da Candelária”, a autora já tinha o desejo de dar voz àqueles que não tinham sequer boca. Nem para falar, muito menos para se alimentar. Crianças e jovens sofridos, necessitando do mínimo existencial. Nem existiam. A autora conta, na apresentação de seu livro, a sua motivação de forma emotiva trazendo o olhar do leitor para a sensibilidade nas canções que compunha, e que acabaram por tratarem-se do início da obra.

Siro Darlan, o juiz que a apoiou na empreitada de pesquisar mais sobre os jovens e crianças de rua, afim de conceder-lhes evidência e clamor por dignidade, acabou por proporcionar o laboratório perfeito para que Áurea iniciasse suas buscas: o Instituto Padre Severino, em 1993. Naquele contexto, a autora pôde enxergar aqueles que faziam parte de suas músicas, os verdadeiros atores de suas canções para que pudessem tomar o seu devido lugar.

A violência era o elo entre todos eles.

A chacina, naquele mesmo ano, que matou mais de 300 jovens e crianças que estavam dormindo em frente à Igreja da Candelária foi bárbara. Um choque para Áurea, para Siro Darlan, e para muitos outros que tinham como meta de vida explorar maneiras e encontrar soluções mediatas e imediatas para que todos (se fosse possível) não tivesse como realidade diária a crueldade que é viver nas ruas.

Infelizmente o assassinato aconteceu. De inocentes. Não era período que estivesse permitida a pena de morte no Brasil. Mas foi-lhes imposta, goela abaixo.

Nessa obra, Siro Darlan teve participação atuante, tanto por detrás dos bastidores, quanto à frente. Em homenagem, ganhou um espaço podendo depor o seu olhar sobre a magnífica ideia de Áurea Charpinel e demonstrou satisfação com a possibilidade de trazer meninos e meninas para participar do Musical que propunha no livro, dando a eles, minimamente, a demonstração de respeito e dignidade, que merecem, muito.

O Musical “Os Sinos da Candelária” foi apresentado no Teatro Óperon, e contou com o emocionado depoimento do seu diretor à época, Helemar Nunes.

A peça contou a história, com cenas do cotidiano, de um grupo de meninos e meninas que viviam nas ruas nos dias que antecederam o massacre. Além de cenas pesadas, a peça foi marcada por momentos de alegria, comum das crianças e jovens, com momentos de humor, dança e da música.

A obra de arte acabou por revelar estrelas conhecidas atualmente no teatro e na televisão. Jovens e crianças que não enxergavam o futuro, tiveram suas vidas modificadas por essa oportunidade que abriu as portas de suas vidas.