ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PODER JUDICIÁRIO
JUIZADO DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE

TRIBUTO A SIRO DARLAN.

Conheci o juiz Siro Darlan há quase dois anos no reformatório Padre Severino. Ele havia me convidado para fazer uma palestra sobre Direitos Humanos para jovens infratores. Cheguei sem saber o que iria enfrentar. Estava diante de mais de 100 jovens, pobres, a maioria negra, num mar de olhos que escondiam miséria, rudeza, sofrimento, perguntas. Quase não soube como e o que falar Não sabia como me comunicar com esse mundo que havia sido banido da sociedade de forma tão violenta, a ponto de quase destruir as pessoas que haviam sido e que eu não sabia se ainda eram.

Tomei coragem e falei como pude sobre cidadania para não-cidadãos. Sobre direitos para quem não os tinha. Sobre fraternidade para quem tinha corações e mentes feridas pela violência. Não sei se tive sucesso, se fui entendido. Só sei que, quando terminei, fui abordado pelo menino e poeta Babilônia que me falou de suas poesias, hoje publicadas graças à ajuda de Siro Darlan. Era uma cena ver o juiz rodeado dos filhos sem pai, buscando apoio, uma boia de salvação, o passe para a liberdade, uma esperança. Eles, os sem lei, cercando o homem da lei, o juiz.

Daí para frente, sempre vi Siro Darlan lutando para jogar luz sobre esse mundo que a sociedade brasileira produz mas se recusa a ver e assumir. Junto às ONGs que trabalham com crianças e adolescentes, junto às autoridades públicas, sempre falando, reivindicando, escrevendo, pesquisando, dando entrevistas, usando todas as armas para dar alguma proteção aos seus filhos sem família e sem esperança. Por isso eu o admiro. Por isso, também não entendo por que tentam tirá-lo de um campo onde ele tem feito o melhor com os poucos recursos que o poder público oferece. O que querem eles? Outro tipo de juiz? Aquele que não fala com os infratores, não sente seus dramas, não se solidariza com a dor e o sofrimento humano? Desejam trocá-lo por um juiz que só entenda de lei, mas que não saiba amar a Justiça e os injustiçados? Não pode ser bom o que querem fazer e espero de todo coração que não consigam.
Afinal, a Justiça também deve existir para os que tentam fazer justiça junto aos jovens adolescentes infratores.

HEBERT DE SOUZA – BETINHO
Transcrito do Jornal do Brasil edição 27/03/1994.

Siro Darlan não é um simples juiz da infância e da juventude. È um juiz capaz de trabalhar uma das questões mais graves do Brasil – a criança e o adolescente excluídos, discriminados e violentados em seus direitos. Uma longa militância se traduz hoje neste livro de artigos e ensaios, alguns publicados, outros censurados, mas todos com a força da indignação e da verdade.
Siro Darlan sabe o que é lei e o que é justiça! Devo a ele muitas de minhas opiniões sobre o Brasil atual, seus males e remédios. Que seu exemplo se multiplique para fazer chegar um pouco mais de justiça a quem nasceu para a vida e está sendo sacrificado de forma tão brutal.

HEBERT DE SOUZA – O BETINHO