MAGISTRADOS OU MARGINAIS.

Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Membro da Associação Juízes para a Democracia.

Há anos celebrava casamentos em Bangu, quando um noivo, ao ser indagado se deseja casar, respondeu em alto e bom som: Sim Majestade. Naturalmente o noivo em seu momento de nervosismo e simplicidade desejava dizer magistrado, mas saiu majestade. É comum as pessoas confundirem palavras de fonemas parecidos. Ocorre que pelo número de processos contra magistrados no Conselho Nacional de Justiça parece que essa confusão não ocorre apenas com o as pessoas mais humildes.

Há pessoas confundindo magistrados, servidor do judiciário que promete respeitar, cumprir e fazer cumprir a Constituição e as leis do País, com marginal, aquele que vive à margem das leis e muitas vezes pensam que estão acima delas. Desse modo, recentemente o CNJ aposentou um juiz que, embriagado, ameaçou mulheres com arma de fogo em um bar. Está entrando na pauta o julgamento de outro que o Ministério Público pediu a aposentadoria compulsória sob acusação de haver favorecido uma incorporadora na disputa de um terreno. O mesmo magistrado responde a inúmeros outros processos no CNJ, um deles por haver favorecido duas namoradas em concurso público, já anulado.

A Ministra Eliana Calmon, quando na Corregedoria do CNJ, afirmou que existem “bandidos” no judiciário. Tal afirmação, embora muito forte e de caráter genérico atinja-nos no fígado, mas o elevado número de processos contra magistrados demonstra que a Ministra sabia do que estava falando e, ao contrário do que pensam alguns esse fato, se por um lado nos deixa triste, por outro deve nos levar a segurança de que providências estão sendo tomadas para separar o joio do trigo, e isso é muito saudável e republicano.

Dizem, em tempos de corrupção de alto nível que atrás de um grande corrupto há sempre uma empreiteira amiga para ajudar a manter a impunidade. Se for verdade que estamos às vésperas de uma nova Primavera com a juventude despertando e reivindicando novos tempos e novos ventos, vamos torcer para que a Primavera não passe longe dos Palácios e dos poderosos e que deem bons frutos para nossa velha nova República.