O ano que não terminou: 1968.

Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Membro da Associação Juízes para a Democracia.

Não é só o Papa e o Messi que “Los Hermanos” têm a mais. Estamos vendo a Suprema Corte da Argentina condenar e mandar para o cárcere os ex-ditadores violadores dos direitos humanos e ex-presidentes corruptos, como Videla e Menem. Quase diariamente a Corrientes é tomada pelo povo em manifestações populares democráticas e respeitadas.

Em nossa combalida democracia não se viu nenhuma resposta às violações aos direitos humanos nem no passado, nem no presente. As prisões brasileiras continuam a desafiar nossa sensibilidade enquanto nos preocupamos com Guantánamo. De olhos fechados, como convém a uma justiça mitológica, continua abençoando torturadores e condenando manifestações públicas democráticas. Uma juíza chegou a fixar uma pena pecuniária a um manifestante popular cerceando a livre manifestação do pensamento.

Lembrando a velha juventude sonhadora de 1968, os estudantes, após décadas de hibernação democrática, voltou às ruas para protestar contra o aumento abusivo das passagens de ônibus, mas também contra o descaso com a educação, a saúde e todos os direitos fundamentais dos cidadãos. Logo a mídia, a serviço dos governantes, paga a soldo das ricas verbas de publicidade, condena as manifestações atribuindo aos jovens epítetos como “vândalos”, “baderneiros”, etc…

Alguns são chamados de “filhinhos de papai” que não andam de ônibus. Temos de comemorar que jovens estejam se solidarizando com aqueles que precisam andar de ônibus, mesmo que eles não andem. Jubilemo-nos por saírem do marasmo para uma participação política eficaz e necessária com a marca da solidariedade.