O desembargador Luis Cesar Bitencourt provocou-me com a seguinte poesia:

 

Sou um menino de rua

Completo e assumido

Dela não saio nem me retiro

 

 -“Sabe por que? Juiz doutor Siro

 

 A lei está do meu lado

O artigo dezesseis que está presente

No Estatuto da Criança e do Adolescente

Me permite o ir e vir

E até ficar onde quiser

Sem ninguém me amolar

 

A calçada é minha cama

O céu o meu teto

E a rua o meu lar

 

Com a camisa até os pés

Passo o dia sentado

Esmolando algum trocado

Não sei se vou até jantar

Mas como afanei uns biscoitos

Vai dar p`ro galho quebrar

 

Mas esta vida não é para mim

Tenho uma outra ambição.

Já conheço uma boca

E vou ser seu avião

 

Tenho sonhos ainda mais altos

Uns sequestros, uns assaltos

E orgulhoso e  enfático

E quem sabe ser um dia

O Rei do Tráfico

 

Eu por ser de menor

Posso agir à vontade

Não serei processado

E assumir dos maiores

Sua responsabilidade

Deixando-se por consequência

Na maior impunidade

 

Mas isto pouco durou

Este fim não esperava

Mas foi o que procurou

N`um entrechoque

Com a polícia

Uma bala

O matou


 

 

   

Minha resposta ao ilustre Desembargador Luiz Cesar Bittencourt, e em sua memória:

 

Sou menino de rua

Não porque assim quis

Mas porque assim me fizeram

E prá isso nada fiz

 

“Sabe por que? Desembargador”

 

A lei que está do meu lado

Me assegura direitos,

Os mesmos que são de adultos

Que não garantem respeito.

 

Assegura-me família, respeito, dignidade,

Mas família não conheço,

Cobram-me além da idade

Responsabilidade excessiva, que não mereço

 

O Governo não me abriga

Não respeita meus direitos,

O Estatuto não conhecem

E atribuem mil defeitos.

 

Marginal não quero ser

Embora você promova

Condições tão desumanas

Pare de me humilhar,

Antecipar a maioridade,

Deixe-me ser criança,

Poder na rua viver, Se você me der um lar,

Bem depressa vou querer.

 

A droga que faço uso

Você põe na minha mão,

O amor que você mata,

Põe ódio em meu coração.

 

Tire a droga, dê comida,

Tire o ódio, plante amor.

Alimente com carinho

Meu coração de menino

Que saberei onde por

O amor que você plantou,

O afeto que você deu.

Eis que nós somos irmãos

Filhos de um  mesmo Deus