A entrevista está marcada para as 19h, mas o casal demora alguns minutos para atender ao celular. O motivo é nobre. Estão no salão de cabeleireiro, cuidando do visual para o casamento sábado, às 17h, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. O ritual de beleza — comum a todos os noivos apaixonados — foi seguido fielmente por Cláudio Nascimento, de 39 anos, e seu companheiro, João Silva, de 38. Eles vão oficializar a união em cerimônia presidida pelo desembargador Siro Darlan.

Sem medo ou culpa

— Vou presidir uma celebração de assinatura de contrato de união homoafetiva. A Constituição já reconhece a união estável entre pessoas do mesmo sexo, no momento em que proíbe preconceito e discrimação e reconhece como entidade familiar a união estável. Ambos passam a dividir o patrimônio, cohabitação, tornam-se dependentes em plano de saúde, previdência privada e pública, exatamente como um casal formado por heterossexuais — explica o desembargador.

Para Claudio, superintendente de direitos individuais, coletivos e difusos da secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, é muito importante que homossexuais celebrem seu amor sem medo nem culpa:

— Nosso afeto não é menor do que o de casais formados por sexos distintos. Acredito ser possível constituir um mundo onde as diferenças vão contribuir para o crescimento e não para gerar conflitos.

João concorda:

— Como militantes, abrimos espaço para que outras casais vivam essa alegria.
Darlan defende a adoção de crianças por casais homossexuais:

— O argumento da necessidade das identidades de pai e mãe vem do preconceito, que busca questionamentos dessa natureza. Cerca de 30% das famílias brasileiras são constituídas só pela mãe. O pai ou abandona ou sequer reconhece paternidade. Nem por isso crianças têm desvio. Tudo que precisam é de amor. Se há família fundamentada no afeto, a criança tem todas as chances de ser feliz.