A economia da periferia e os “rolezinhos”.
Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Membro da Associação Juízes para a democracia.
Uma juíza incompetente proibiu jovens menores de 18 anos de entrarem nos shoppings desacompanhados de seus pais. Essa decisão além de afrontar a própria democracia é um tiro no pé de qualquer economia capitalista. Não é crível que um empresário tenha feito esse pedido ao judiciário. O país tem 30,2 milhões de jovens com idade entre 16 e 24 anos. Por essa esdrúxula decisão, se um jovem quiser ir a um cinema ou área de lazer terá que se fazer acompanhada de seus pais.
Pesquisa divulgada pelo Datafavela revela que a população da periferia atingida por essa preconceituosa decisão atinge 11,7 milhões de pessoas, sendo o quinto estado em população do Brasil, e movimenta uma economia de R$63,2 bilhões de reais, ou seja, equivalente ao consumo total de países como Paraguai e Bolívia. Revela ainda que 2,9 milhões de moradores das favelas têm cartões de crédito próprios. A pesquisa aponta ainda que os moradores de favela fazem suas compras do dia a dia no local onde moram, mas produtos mais caros como eletrônicos e eletrodomésticos compram nos shoppings. As roupas, assim como calçados, também são compradas nos shoppings, apenas 1/3 compra na própria favela onde residem.
Outros dados interessantes da pesquisa são que 73% dos jovens entre 18 a 30 anos já estudaram mais que seus pais e 28% dos moradores já leram pelo menos um livro. No cotidiano das favelas aparecem poucas opções para o lazer em espaço público. Têm celulares 85% dos moradores e 22% tem smartphone. São internautas 52% dos favelados, mas entre os jovens oito em cada 10 já acessam a internet.
Confirmando a letra do funk 81% gostam de viver na comunidade, e mesmo sabendo do preconceito não se envergonham de dizer onde mora, ao contrário, a maioria tem orgulho de onde vive e “só quer é ser feliz e viver tranquilamente na favela onde nasceu”.
Ora essa pesquisa aponta o grande potencial econômico desses jovens que estão procurando alternativas de lazer nos shoppings e, que certamente devem ser muito benvindos aos templos de consumo criados pelo capitalismo. Alias no maior centro capitalista do planeta os consumidores são sempre muito bem recebidos tanto que ninguém paga para estacionar e fazer suas compras nos Estados Unidos. Ao contrário do que fazem aqui os usurários empresários dos shoppings que além de exigirem pagamento para os que vão de carro ainda promovem falsas promoções, que não recebem das autoridades responsáveis a necessária repressão por seus excessos.
Portanto é fácil explicar tão estranha reação repressiva aos jovens que buscam nos shoppings o espaço de lazer que o poder público lhes nega. Difícil é entender como um poder que foi criado para interpretar a lei em favor do povo, adote decisões excludentes e preconceituosas para servir estranhos interesses plantados e alimentados em ricos seminários promovidos para magistrados nos hotéis cinco estrelas do litoral sul fluminense.