O juiz e o fariseu.

Siro Darlan – Membro da Associação Juízes para a Democracia e do Instituto dos Advogados do Brasil

Semana passada recebi uma mensagem de um magistrado pouco habituado às práticas democráticas, que muito distante em seu permanente sabático retiro, criticava a forma democrática como se desenvolve a campanha eleitoral para a presidência da Associação dos Magistrados Brasileiros.

A mensagem cheia de empáfia e autoritarismo vinha de quem se autodenominava Mestre em ciências jurídico políticas e me deixou muito desconfortável primeiro porque a ausência permanente do referido magistrado das lides associativas impede que com ele se trave um debate de idéias sobre o tema e depois porque ao mostrar-se tão auto-suficiente qualquer tentativa de diálogo parecia ser em vão.

Mas na missa desse domingo encontrei algumas respostas que aplacaram meu coração. O verdadeiro Mestre não é arrogante, mas humilde, não se ufana, não se ensoberbece, não procura os seus interesses, não se exaspera. E ainda que tenha o conhecimento de todos os mistérios e toda a ciência, é paciente, é benigno, não arde de ciúmes, mas regozija-se com a verdade.

Então me foi recordado que um juiz não faz discriminação de pessoas, não é parcial em prejuízo do pobre, mas escuta as súplicas dos oprimidos. A prece do humilde atravessa as nuvens; enquanto não chegar ao seu destino não terá repouso, nem mesmo os sabáticos, até fazer justiça aos justos.

E, culminando seus sábios ensinamentos ouvi aquela parábola que contava que: “Dois homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos. O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda. O cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!” O verdadeiro Mestre então disse: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado.

Que alívio! Graças a Deus fiquei mais calmo e esperançoso. Porque o colega quando voltar de seu descanso sabático, se é que algum dia ele irá aparecer para trabalhar, não terá muito o que fazer com o seu título de mestre e terá que aprender a lição dos humildes como ensina o Verdadeiro Mestre.
Quem sabe se com um pouco de paciência e humildade poderá se habilitar a participar do saudável debate associativo que tanto tem contribuído com o respeito às nossas diferenças para o crescimento da magistratura a serviço do povo.