Dilema na base do vôlei carioca
Taxa abusiva da federação afasta jovens atletas
Pais tentam derrubar valor na justiça
Jogadores precisam pagar R$ 3 mil por transferência entre clubes

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Victor Costa (Email)

Publicado: 19/03/14 – 12h49

Atualizado: 19/03/14 – 12h56

Jogo da Superliga feminina de vôlei – Foto de arquivo Cezar Loureiro / Agência O Globo

RIO – A filha caçula do taxista Wagner Leite é mais uma atleta a ter seu desenvolvimento no esporte prejudicado pela Federação de Vôlei do Rio de Janeiro (FVR). No ano passado, pouco antes de completar 13 anos, ela se federou e passou a defender um grande time do Rio na quadra, onde atuava como levantadora. Após um ano, a menina acabou sendo dispensada do clube, mas não consegue ingressar em outro. A entidade cobrar dos atletas das categorias de base uma abusiva taxa de R$ 3 mil para transferências entre clubes.

– Tenho três filhos e não tenho condições de pagar esse valor por uma transferência. Ela já procurou alguns clubes do Rio e, agora, treina no Marina da Barra, mas não pode jogar. Até porque pagar a taxa não é o suficiente, já que a federação limita o clube a fazer apenas duas transferências por temporada – diz Wagner.

Desse valor de transferência, 75% ficam com o clube e 25%, com a FVR. Para se ter um parâmetro, no futebol, o esporte que mais movimenta dinheiro no país, a taxa de transferência cobrada na categoria de base é de R$ 300 – um valor dez vezes abaixo do que é cobrado pela FVR. Para não deixar de ver seus filhos seguirem em frente no esporte, Wagner conta que alguns pais com condições financeiras melhores tentam negociar e parcelar a taxa com FVR. .

O caso veio à tona na imprensa na semana passada através do ex-jogador de basquete Alexey Carvalho. Sua filha de 15 anos com a ex-ginasta Luísa Parente é jogadora de vôlei e vive esse drama que aflige a nova geração de jogadores de vôlei do Rio de Janeiro. A menina está há um ano e meio sem jogar. Os pais estão tentando derrubar a taxa na justiça desde 2012 e uma nova audiência está marcada para o fim desse mês. A taxa é cobrada pela FVR há oito anos. No entanto, após o caso ser divulgado pela imprensa, a entidade disse que vai rediscutir a taxa em assembleia marada para o próximo dia 24.

– Nós temos condições financeiras de pagar essa taxa, mas estamos fazendo isso pelo vôlei e nossa filha entende isso, apesar de não estar competindo há um tempo. Essa taxa impede o esporte de se desenvolver e prejudica muito toda uma nova geração de jogadores – diz Alexey.

Até Siro Darlan, desembargador do tribunal de Justiça do Rio, já se pronunciou contra essa taxa abusiva. Para ele, a taxa fere o direito da criança em ter acesso ao esporte, algo que é fundamental para sua formação e está previsto no artigo 227 da Constituição Federal.