Saindo das cinzas.
Des. Siro Darlan – Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Membro da Associação Juízes para a Democracia.

No inicio do ano estive na Catacumba de São Sebastião em Roma. Nosso santo padroeiro na verdade não morreu flechado como tradicionalmente acreditamos, mas após ter sido condenado ao sacrifício das flechas por haver confessado sua fé, foi salvo por uma caridosa rica senhora romana, que havia secretamente aderido ao cristianismo. Contudo, após a cura Sebastião voltou a desafiar os poderosos romanos e novamente confessou sua fé em Cristo e só então foi definitivamente martirizado a pedradas e pauladas.
Essa história reveladora, para mim, de nosso Padroeiro é um estímulo para nosso povo sofrido, sobretudo com esse início de ano tão pesaroso quando nos primeiros dias de janeiro fomos sacrificados pelas águas que causaram tantas vítimas na Região Serrana. Mal havíamos enterrado nossos irmãos falecidos e logo outra tragédia acomete nossos sambistas com o fogo transformando em cinzas o sonho realizado durante um ano pelas Escolas de Samba Portela, Grande Rio e União da Ilha.
Inspirados em São Sebastião, já levantamos,sacudimos a poeira e vamos dar a volta por cima mais uma vez. A velocidade na solução de tão graves problemas e a união mostrada pelos sambistas que a rigor disputam entre eles a hegemonia do samba deve servir de exemplo para nossos governantes e políticos para solucionar nossos graves problemas sociais e institucionais.
Incrível como ainda não havia sido apagado o fogo a Liesa, liderada por seu Presidente Jorginho Castanheira, reunia os dirigentes das Escolas de Samba na busca de solução que veio fácil graças ao espírito de solidariedade e a garra comum a todos os que são responsáveis pela realização do maior espetáculo da Terra.
A união e a solidariedade dos presidentes das escolas de samba foram o combustível para a solução do problema. As escolas prejudicadas desfilarão, mas não serão avaliadas, nada mais justo para elas que sofreram com essa tragédia provocada pelas chamas que queimaram seus carros alegóricos, suas fantasias e alegorias, mas não foram capazes de apagar o entusiasmo e o amor a cultura popular. Pensando no público, principal alvo da grande festa popular foram trocados os dias de duas grandes escolas, uma delas prejudicada pelo fogo, a Portela será a terceira a desfilar no domingo, enquanto a Mocidade de Padre Miguel gentilmente concorda em desfilar na segunda feira.
O Prefeito Eduardo Paes, administrador competente e amante do samba, como deve ser todo Prefeito do Rio, não mediu esforços e até aderiu a essa providências para reduzir o impacto da tragédia no Carnaval de 2011.
A festa continua grandiosa e se alguém duvida que não haja o mesmo glamour e grandiosidade antes armazenados nos laboratórios do samba, verá que os sambistas das três escolas mostrarão mais uma vez com garra e amor às suas cores que o canto, a música, o gingado da mulata, a harmonia, os ritmistas, as baianas, as velhas guardas e as crianças levantarão mais uma vez bem alto as bandeiras de suas escolas que brilharão e surpreenderão os mais pessimistas, porque assim como nosso Padroeiro, nem o fogo, nem a água, nem as flechadas são capazes de matar o samba e apagar o brilho de nossa raça multicolorida.